É mentira quando dizem que nenhuma dor é eterna. Quando se vê partir alguém que se ama, a dor é eterna sim, seria impossível não o ser. Mas há que seguir em frente com a nossa vida, há que viver, há que aprender a lidar com a dor. Lidar com a dor é fundamental. Não há nenhum tipo de “receita” ou algo do género para aprender a lidar com a dor, cada um fá-lo à sua maneira, cada um demora o seu tempo. A dor é eterna, mas não tem tanta intensidade como no início. No início, chega-se mesmo a perder a vontade de viver, há dentro de nós uma explosão de sentimentos negativos… É uma mistura de desespero, negação, raiva, depressão, aflição, angústia, sufoco, entre outros tantos sentimentos horríveis…A dor sentida não tem explicação. É como se tivesse acabado o mundo. No entanto, com o passar do tempo, a dor vai amenizando. Já se é capaz de recordar a pessoa e os momentos com uma maturidade diferente, com um sorriso no rosto, em vez de uma enchente de lágrimas. É verdade que há dias menos bons, em que a saudade é sufocante e em que parece que se não virmos e se não abraçarmos a pessoa em breve, vamos morrer…mas nada disto se compara ao que se sente no início.
A verdade, é que achamos sempre que só acontece aos outros e que nunca calha a nós, mas as coisas não são bem assim. No meu caso, eu não valorizei só quando perdi, sempre valorizei, mas na maioria dos casos, “o ser humano só valoriza quando perde”. Mas devemos valorizar as pessoas que amamos, não devemos deixar nada por dizer ou fazer, porque um dia, essas pessoas podem partir, é a lei natural da vida. E, nesse caso, ter a consciência tranquila é bom. Eu confesso que hoje em dia, de certa forma, falho nesse aspecto com certas pessoas, afasto-me delas…talvez tenha sofrido uma das repercussões que falei anteriormente…talvez seja para não me magoar de novo com a perda de alguém…
20/09/2003 é uma data que, de certa forma, está e estará sempre “tatuada” em mim. Faz hoje 11 anos que partiu alguém que eu amava. Pode parecer estranho para a maioria das pessoas, pode até parecer “fita” da minha parte, mas apesar de eu ter convivido com ele apenas 6 anos da minha vida e de ser tão nova quando ele partiu, eu sei claramente que o amava, que ele era realmente importante para mim. Na verdade, acho que ninguém sabe o que isto realmente é para mim, nem a mágoa que isto me provoca. Ninguém sabe as saudades que eu tenho, nem o que eu dava para o ter de volta, nem que fosse por uns minutos.
Não é justo ele ter partido tão cedo, porque os anos que eu tive com ele não deram para o conhecer realmente, para viver com ele as coisas que eu era suposto ter vivido, para lhe dizer as coisas que ficaram por dizer… Ele não me viu crescer, não conheceu os meus irmãos, não vai conhecer os bisnetos, eu não tive oportunidade de lhe dizer que o amava… Ele perdeu e continuará a perder tanta coisa…
Não sei como é “a vida” depois da morte, mas tenho a certeza que há algo mais que” isto”. Tenho, também, a certeza que ele olha por mim, por nós…protege-nos. Sei, porque eu pressinto-o. Por vezes, parece que ele está mesmo ali, ao meu lado. Eu sei que ele nunca nos deixaria desamparados, sem protecção.
Eu guardo com muito carinho no coração todos os momentos de que me recordo, todo o amor que ele me deu… Espero, sinceramente, um dia, vir a reencontrar-me com ele, para termos a oportunidade que não tivemos antes. Um dia, quando eu tiver filhos, eu vou contar-lhes sobre ele, sobre quem ele era, as nossas memórias, o quanto eu gostava dele…Eu sei que tu sabias, apesar de eu nunca to ter dito, mas eu amo-te avô e amar-te-ei sempre, prometo!
Bé Silvestre
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